Occhio del Mondo!
Em “Eles estão dentro de mim”, Leon Nunes nos conduz a um universo perturbador onde os deuses jogam com a vida humana como peças de um tabuleiro cósmico. A narrativa de horror quântico e ficção científica se desdobra entre batalhas apocalípticas e desdobramentos temporais que desafiam a percepção do que é real. Ao ler, é inevitável sentir-se um espectador da guerra intergaláctica travada no plano da consciência — uma experiência que testa os limites entre o que acreditamos ser "fantasia" e o que a mente ousa considerar como "possível".
“Podemos ser terríveis e obscuros. Nunca há outra maneira.” — (pág. 15)
Essa frase encapsula a intensidade do personagem, um escolhido à revelia para salvar a humanidade. Sua narrativa é marcada por reflexões angustiantes, um sarcasmo autodepreciativo e uma crítica afiada às limitações humanas. Leon, com maestria, combina um enredo caótico e misterioso que se estende de 2013 a uma batalha metafísica onde o protagonista luta contra algo que pode ser seu próprio reflexo interior.
A figura de Hélio, personagem enigmático que surge para guiar ou torturar o protagonista, evoca imagens poderosas de deuses ancestrais e figuras mitológicas, que se alternam entre serem salvadores e algozes. A narrativa faz pensar em Morgan Freeman ( Todo Poderoso) ou até em figuras da cultura pop como o Doutor Estranho, enquanto o protagonista é arrastado para dimensões paralelas em um desdobramento mental tão vívido que o próprio leitor se pergunta: é real ou apenas uma alucinação divina?
“Lágrimas minhas, liberdade sua, de minha passagem e minha luta. O que não há volta, não há escolhas.” — (pág. 23)
O personagem, enquanto desbrava uma dimensão desconhecida, trava uma batalha mental, interagindo com criaturas como Amior e Draconiano e até com uma parede de crânios falantes, lembrando cenas de um purgatório. A narrativa se mantém tensa e enigmática, cheia de simbologia. O leitor é levado a questionar: será que a guerra foi travada apenas no plano espiritual, um conflito dos seus demônios internos?
Leon não poupa o protagonista de sofrimento; ele transita entre a dor, a desesperança e o fascínio de explorar a mente em múltiplos níveis de realidade. A obra desafia a lógica, mergulhando em dilemas existenciais e na ironia divina, como bem sintetiza este trecho:
“Dopado por narcóticos divinos, fui e voltei a terras inumanas. E meu retorno foi triste. A ironia da ironia.” — (pág. 55)
A jornada para salvar o mundo, ao que parece, é também uma jornada para sobreviver à própria psique, e o leitor sai com a sensação de que testemunhou algo poderoso. Para os que buscam uma experiência literária ousada, de horror existencial e questionamentos filosóficos, “Eles estão dentro de mim” é um convite irrecusável. Mas um aviso: cuidado com Hélio. Se ele aparecer, talvez seja tarde demais para fugir.
Sinopse:
O que Você faria se um Deus te escolhesse para uma horrível tarefa? Horrores divinos, sensação de ser apenas um títere nas mãos dos Deuses; escolhido para uma estranha batalha. "Mãos hábeis aquelas que tiveram condições de tocar o absurdo e dele trazer o máximo de realidade verdadeira para a nossa tão ultrajada e ilusória. Já não é a primeira vez que isso acontece. Hoje não passa de relatos (desenhos, em sua maioria rupestres), às vezes mal interpretados. Os Deuses são diferentes." "Penetrado em outro sonho, outra lembrança. O desdobramento temporal. Trafeguei, de diferentes maneiras, um ambiente belicoso. Participei, de alguma forma, da guerra, sob diferentes prismas. Orbitei outros mundos, a flutuar acima do conflito. Espectador de guerra entre raças no futuro que não irá se repetir. " Em "Eles estão dentro de mim", Leon nos traz uma história que mistura gore, ficção científica e horror, além de uma reflexão sobre as diversas potestades divinas, afinal "são os mesmos personagens que se repetem. Cultos e religiões mudam, nomes também. Até mesmo os Deuses cultuados se alternam no trono da divindade". Você tem coragem de entrar neste mundo? Ah, um aviso. Cuidado com Hélio. Se ele aparecer, fuja.
Fiquei tão empolgada com a história que resolvi fazer algumas perguntas ao autor, as quais compartilharei com vocês abaixo.
UM: Quem é Leon Nunes?
LN: Como diz Belchior, “eu sou apenas um rapaz latino-americano” com um sonho de ser reconhecido na escrita, na literatura brasileira, e ganhar um dinheiro para minha sobrevivência. Então, pense, imagine ir a uma livraria (que sonho!) e pedir por um livro meu, mas pedir pelo meu nome completo: me vê o livro de Leonardo Nunes Nunes. Muito longo, não? Leon Nunes, mais curto, direto, incisivo, melhor né? Quarenta anos de idade, todo um processo de literatura. Tardiamente diagnosticado autista, um autismo leve que de leve nada tem. Um camarada cheio de defeitos, um ser humano com o coração mais tranquilo por conta da literatura.
UM: Além de escrever histórias, você tem algum hobbie, ou algum plano B?
LN: E seguindo a mesma canção de Belchior, acima, “mas não se preocupe meu amigo, com os horrores que eu lhe digo, ..., ao vivo é muito pior”, porque nada — embora eventualmente eu pense em outras coisas, nada! — me preenche senão a literatura, meus livros. Não. Nada de planos b, c, d. Ou é tudo (literatura) ou é nada. É ruim, mas é bom, porque não desisto fácil. Entanto, o caminho é cheio de crateras, e ultrapassá-las causa muita dor. Nem hobbie tenho, mas um dia talvez eu venha ter.
UM: Como foi para você escrever "Eles estão dentro de mim"?
LN: Necessidade. As dúvidas quais eu estava imerso, os conceitos (sejam eles quais forem) mundo afora, religiões, Deuses e Deus, a marcha ininterrupta da humanidade em busca de um salvador, a própria humanidade adoecida, a depressão, os dilemas pelos quais o povo vive diariamente, a fome, guerra. Eles estão dentro de mim é uma síntese disso. Hélio não pode ser considerado um “anjo” mau, nem bom; a representação do que é a humanidade ao longo dos milênios, até os dias de hoje. A guerra, idem; nela, os acontecimentos têm simbologia, se parecem com eventos atuais (desde o campo científico ao místico/etéreo/ilusório) de crenças também atuais. Quais as chances de um humano receber a visita de Deus? Fervorosos religiosos dirão que 1000%. É isso. Mas é muito mais além.
UM: Por que o personagem principal não tem nome? É uma estratégia para imergir o leitor na narrativa, pois este personagem poderia ser qualquer um de nós? Ou ele é você?
LN: Não obstante o mais “correto” seja nomear o personagem, eu preferi deixar sem nome exatamente para fazer o leitor / a leitora (Fabíola, José, Anacleto, São João Batista, Maria, Elisabete, que seja) mergulhar na história, como se fosse ‘obsediado/a’ por Hélio. Espero minimamente ter acertado na escolha. Entanto, vou relevar uma coisa: inicialmente o nome do personagem seria Samuel. Cortei.
UM: De onde surgiu a inspiração para esta narrativa que envolve horror, ficção cientifica?
LN: Passou por um processo de reescrita, obviamente (qual recomendo); de toda forma, desde o primeiro instante, esteve claro, em minha cabeça, o desejo de demonstrar que a humanidade precisa de (e às vezes cria) um Deus. Estamos a viver na era Cristã. Qual será a partir, por exemplo, do ano 2500? É um punhado de percepções meio filosóficas meio empíricas, peças que, com um bom polimento, se juntaram para criar os eventos narrados.
UM: Quanto tempo você levou para finalizar este livro?
LN: A primeira versão de Eles estão dentro de mim, foi escrita entre os anos de 2011 e 2013. Ficou por um tempo em “banho-maria”, com objetivo de crescer feito uma massa de pão, até o ano de 2019, quando fiz a revisão e reescrita, já com a história pronta na cabeça (e parcialmente pronta no papel).
UM: Você usa algum tipo de planejamento para desenvolver as suas narrativas?
LN: O pessoal tem usado o termo “escritor/a jardineiro/a”, então me identifico com ele. Embora haja um planejamento no papel (ou no quadro), onde eu coloco acontecimentos da história. É importante frisar que eu deixo as ervas daninhas crescerem.
Essencialmente é a narrativa que me leva a lugares estranhos, não o contrário; sou apenas o meio pelo qual ela usa para vir à tona.
UM: Você pensa em se aventurar em algum outro gênero totalmente diferente?
LN: De alguma maneira, o drama está envolvido (em maior ou menor grau) em tudo que escrevo. Meu próximo livro versa sobre autismo (por óbvio usei de minha experiência no espectro para desenvolver a história), a vivência de uma criança/adolescente/adulto (essas fases de vida) dentro do espectro, as dificuldades, os dilemas e empecilhos, assim como o diagnóstico tardio. Para outros livros? Tudo é possível, desde que a história peça o tom necessário.
UM: Em nossa conversa no podcast "Narrativas Introspectivas", você quando falou sobre esta obra, disse que podemos entendê-la como uma crítica a religião e tudo o que a cerca, qual é a sua intenção? Esta intenção esteve sempre presente na primeira palavra, ou ela surgiu durante o processo de escrita?
LN: Desde o início, desde o primeiro fragmento, desde o primeiro pó de ideia surgida na minha cachola — talvez não aparente, talvez não evidente, mas muito presente no simbolismo. A massa de pão cresceu com naturalidade. Falando da religião, seja ela qual for, encontramos uma série de questões “dúbias”, mas levadas muito a sério, como o pecado (quero dizer, para algumas delas, o simples pensar já “é” pecado), ou ainda o uso de vestimentas, ou a personalidade emprestada pelo regente espiritual desta ou daquela religião. Vamos estender um pouco mais? Política, a mesma coisa. Vamos esticar a ideia? A própria tradição de um povo, levada séculos a fio, mudanças muito sutis, a permanência do desejo principal.
UM: Que conselhos você daria para escritores que desejam explorar o suspense e o horror nas suas histórias?
LN: Vou começar pelo clássico: Leia! Se possível, leia muito (esse “muito” fica a critério de quem for ler). Outro clássico: Escreva. Escreva muito (e esse “muito” é muito mesmo).
Mas, para escrever horror, suspense, pense. Pense muito. Pense na história, como ela quer vir a este mundo, como ela vai nascer e ter luz (ou ausência de luz). O pensamento não é pecado. O pensamento é necessário. Crie saídas para ajudar sua história a sair da cabeça.
Então, escreva. Mas só escreva horror e suspense tendo em mente que quer escrever, que não é um desejo passageiro, que logo vai acabar. Alimente o desejo de escrita a todo instante — mesmo que não digite uma só palavra durante o dia; faça inclusive a noite valer a pena. Sonhe com sua história, se possível — os pesadelos são uma chave importante, acredite. Não enlouqueça.
Se você achou pouco esta interação com o seu autor, eu tenho mais para você. Que tal ouvir o nosso bate-papo no meu podcast?
Você pode encontrar "Eles estão dentro de mim" e outras obras do Leon Nunes na Amazon
Siga o autor no Instagram: @leonnuness
Eu li no formato: Ebook
Editora : UICLAP (4 janeiro 2024)
Idioma : Português
Impressão sob demanda (capa comum) : 114 páginas
Avaliação: 5 ⭐
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